segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Salve, Carolina!

Hoje, se arrumando para ir à escola, o menino pegou no armário a única camisa social que ele tem, comprada numa daquelas lojas populares do baixo belô, para um aniversário de 15 anos, ano passado. A mesma que ele usou na formatura do ensino fundamental. É que hoje, a professora de literatura fará um café literário para xs alunxs apresentarem as obras lidas no bimestre e elxs deverão estar caracterizados como um dos personagens. Ele leu "Quarto de Despejo" e foi vestido como José Carlos, filho da Carolina. À princípio, reproduzindo os estereótipos com os quais somos bombardeados, cotidianamente, ele queria ir com uma camiseta furada. Conversamos. Carolina deixa claro, em todo o livro, o valor que a educação tinha pra ela. Faltava comida, mas não faltava o dinheiro da condução para os filhos irem para a escola. Ela, inclusive, começa o livro falando que era aniversário da filha, Vera Eunice, e que pretendia comprar um par de sapatos pra ela. Um filho de Carolina jamais iria para escola para uma apresentação de trabalho vestido de qualquer jeito. O menino refletiu, repensou, e escolheu a roupa que achou mais apropriada. Guardou o pacote de biscoito para o café literário na mochila e anotou no celular: "traduzido em 13 línguas, vendido em mais de 40 países" e saiu todo animado. Eu acredito nessas micro-revoluções cotidianas. É daqui, da minha vida ordinária de mulher do povo, mãe de filho, professora, que vou batalhando para mudar o mundo.
Salve, Carolina! 

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