segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Com que roupa eu vou?

No começo da madrugada teve muito barulho por conta de um carro com aqueles equipamentos potentes de som. Mas agora, a cidade é só silêncio. Quer dizer, os periquitos já fizeram uma algazarra danada no pé de jabuticaba e no pé de amora da casa do Seo Renato. Mas, consigo ouvir a seriema cantando lá no morro. O menino acordou sozinho para ir para a escola. Quase não precisa mais de mim. Falo quase, por que ainda tem necessidade de interlocução. Ontem, enquanto lia Carolina Maria de Jesus, do quarto ele me gritava.
- Mãe, ouve isso: 'O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora.' Foda isso, né, mãe?
- Carolina é maravilhosa, meu filho.
- Olha isso, mãe: 'Entregou sua vida aos cuidados da vida'.
- Carolina é poeta, meu filho. Eu não te falei?
- As minhas palavras ferem mais do que espada. E as feridas são incicatrizáveis.
- Sim, é o dedo na ferida. Como o rap, meu filho.
- Mãe, tenho que apresentar o livro caracterizado como um dos personagens. Acho que vou como José Carlos, filho dela. Pensei em ir com uma camiseta furada..."
- Filho, você acha que uma mulher que começa um livro falando que era aniversário da filha e que queria comprar um par de sapatos pra ela, que deixava de comprar comida, mas nunca faltava o dinheiro da condução para eles irem à escola. Você acha que ela deixaria o filho ir apresentar um trabalho escolar de qualquer jeito?"
-Tem razão mãe, vou com a minha melhor roupa.

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