Acordei às 3:30 da manhã com um pesadelo que envolvia violência. Os
últimos dias não têm sido fáceis para qualquer pessoa com um mínimo de
sensibilidade. Horas depois, o menino bateu na porta do meu quarto.
"Mãe, tive um pesadelo."
"Eu também, filho. Entra aí."
O travesseiro dele já debaixo do braço.
Pensei que era a hora perfeita para uma conversa, já ensaiada várias
vezes, mas sempre terminada com um falando alto com o outro. Ele se
enfiou embaixo da coberta comigo e puxei o assunto. Contei do meu
pesadelo e aproveitei para falar de um post que ele colocou no facebook.
Eram cenas do filme "doce vingança", onde a protagonista se vinga de
um estupro. A legenda que ele colocou era: "Sobre a jovem de 17 anos que
foi estuprada hoje por 30 homens, não sou a favor de pena de morte mas
nesse caso..." Quando vi aquele post, senti um mal estar. Ser mãe não é
fácil. Somos culpabilizadas até pelo machismo, pois segundo alguns, são
as mães que educam os filhos. Parece que os filhos não têm pais,
amigos, não estão no mundo, recebendo influência de todos os lados. Fico
irritadíssima com esse discurso, porque é uma peleja diária levar o
menino a refletir sobre questões importantes, aprendidas em outros
espaços onde ele circula e trazidas, por ele, para dentro de casa.
Mas, voltemos ao pesadelo e ao post sobre o filme.
Falei do meu mal estar ao ver aquilo. Que se seguirmos no "olho por
olho, dente por dente" instalaremos, de vez, a barbárie. Falei das
violências cotidianas, a que nós mulheres, somos submetidas. Ele me
ouviu durante um tempão. Depois, foi a minha vez de ouvi-lo.
Estabelecemos alguns acordos de parceria para o nosso dia a dia. Falei
sobre como preciso contar com ele, e que é preciso lutar, diariamente,
para matarmos o tirano que existe em cada um de nós. Que precisamos sair
do nosso lugar de conforto, se quisermos preservar o que de humanidade
ainda nos resta. "Mãe, você deveria ser advogada. Você sempre me faz
mudar de ideia. Vou apagar o post."
Repetir, repetir, repetir, até ficar diferente, diz o poeta.
Educar é isso. Dá um trabalhão, mas não há saída fora do diálogo e da reflexão.
E, preciso, urgentemente, levar o menino para assistir uns filmes de arte.
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