quarta-feira, 23 de março de 2016

A vida não para

Pé ante pé consegui sair sem acordar Scooby, Frida e Dandara. As luzes da rua ainda estão acesas. Coloco os fones de ouvido. Desta vez vou embalada pela voz de Lenine: "mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma"... Peguei emprestado os fones do menino e ouço a canção dos dois lados. A lua ainda está no céu, linda, inteira. Do outro lado, o tom vermelho-alaranjado informa que o sol surgirá dentro em pouco. Os cachorros ainda dormem enrodilhados no meio da rua. O cheiro que vem da fábrica de doce me deixa em dúvida se é banana ou goiaba. A lenha buscada ontem, está toda organizada, por tamanho e espessura, embaixo do pé de manga. Fogão a lenha tem sua ciência. 6 horas em ponto e o carro passa com a equipe da saúde da família a caminho da zona rural. A lua já sumiu, o sol surge atrás da Serra do Baldim. Os eucaliptos que substituíram os pés de pequi, atrapalham a paisagem. Dou meia volta no trevo e volto. Já tem menino penteado e com o uniforme da escola. A água do cabelo molhado escorre pelo pescoço deixando uma marca na camiseta cinza. Nos pés o chinelinho havaiana gasto de um dos lados. Ele pisa torto como eu. A galinha preta chocou os pintinhos. Parece que oito conseguiram escapar, dois são rajadinhos, o resto saiu como a mãe. Estão lá, todos juntos, ciscando no monte de lixo. Apresso o passo para ter certeza que o menino acordou com o despertador. A cada dia que passa, ele precisa menos de mim. Minha playlist recomeça. A voz de Lenine me lembra:
"Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida é tão rara
A vida não para não!"

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