quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Permanente, só a mudança!


Enquanto embalava as poucas coisas que tinham, ela ia lembrando os “momentos de céu” que viveu naquela casa.

Lavar a louça acabou por se tornar um prazer, com a janela da cozinha emoldurando o verde do quintal, inclusive, o do vizinho. A mesma moldura, por onde contemplaram,  por tantas vezes, a lua cheia. Nessas noites, a mãe e o menino apagavam as luzes para admirar melhor, sempre com o mesmo espanto, como se fosse a primeira vez.  Às vezes, iam até a praia, para vê-la nascer, linda, atrás da ilha do Campeche. Da varanda lá de cima, assistiram o por do sol e o vermelho fogo que, nessas horas, se tornava o horizonte.


 Com a vizinha dividiu muito mais do que o quintal. Foram inúmeras as vezes em que ela a socorreu com seus chás - calmantes para parar o choro e ajudar na escrita dos trabalhos acadêmicos  e amargosos para o fígado e estômago nos dias que a TPM atacava. Isso sem falar nos mingaus e nos caldos quentes com os quais sua alma foi muitas vezes  aquecida.






O vizinho compartilhou muito mais que caronas para o supermercado e o sacolão. Com ele, a mãe dividiu o deslumbramento de cada brotinho verde que despontava no quintal, cada florzinha nova, cada frutinha. Sob os olhares atentos dos dois, a mãe e o menino procuravam cuidar da casa como se deles, fosse.
E os cachorros? O menino não chegava, nem saía sem falar com eles. Quando iam tomar banho no pet, ele ficava torcendo para chegar da aula primeiro do que eles. Assim, poderia recebê-los no portão. "Ah, mãe! Eles me recebem todo dia. Agora é a minha vez de retribuir a gentileza." – dizia o menino.





Andaram  tanto de bicicleta que não sabem mais viver sem uma. Lagoa do Peri, Armação, Matadeiro, foram inúmeros os passeios de bike. Isso sem falar no período, logo no comecinho, em que o menino ainda estudava longe. Foi a bike que os salvou, quando saíam, antes das 6h da manhã, ainda escuro, para pegar uma carona lá na avenida Pequeno Príncipe.





O galo e as galinhas do vizinho a levaram de volta para a infância, no interior de Minas, mas os aviões a lembravam que o mundo estava lá fora, e que não deveria esquecer que ainda há muito pra conhecer, muito pra descobrir... Assustada, às vezes ela dizia: - “Esse passou baixo demais”!

Aproveitou ainda para quarar a roupa na grama, pra ela ficar branquinha, como ela aprendera com a mãe. Poder secá-la ao sol, então... que maravilha! Nada de recolher a roupa correndo, a cada vez que ia usar o fogão...

E o silêncio do Campeche? Só mesmo o latido dos cachorros, o cacarejar das galinhas  e o som dos cortadores de grama para lembrá-los que ali, morava gente!

Mas agora é hora de ir conhecer outro canto e fazer outras amizades...

É, ser nômade tem suas vantagens...

(Campeche, Florianópolis, julho de 2012)

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