domingo, 8 de fevereiro de 2015

Carta de Lisboa

A carta que gostaria de ter escrito para mamãe contando da experiência de morar em Lisboa - se ela estivesse viva.

Lisboa, 4 de junho de 2014.

Oi mãe,
Daqui a 2 dias estarei embarcando de volta. Viu? Nem demorou tanto assim. A senhora sempre fica angustiada quando um filho vai pra longe…
Mãe, a senhora teria gostado tanto de Lisboa.



Ia poder escolher em qual igreja ir à missa. São tantas por aqui. É possível ouvir o sino marcando as horas. Ia pirar na feira da ladra; é tanta coisa, mas tanta coisa, que os caraminguás da pensão da senhora iam ficar todos lá. Posso até ver seus olhinhos brilhando nas toalhas com motivos portugueses.


Mãe, engordei 3 kg. Também pudera, os portugueses comem bem demais. Sabe o bacalhau que a senhora tanto gosta? Não, não são aqueles fiapinhos,  salgados toda vida, que a senhora sempre faz na semana santa, não! São postas enormes, como a enir levou uma vez da ilha da madeira e preparou pra gente, lembra?

Não teve uma vez que eu comi que não lembrei da senhora. Isso sem falar nas azeitonas. Tem uma preta, descaroçada, dos deuses, mãe. Eu não gostei foi dos doces, prefiro os nossos. Tem um pastel aqui, super famoso, que é na verdade um doce. Como pode? Chamar doce de pastel. Pastel bom mesmo é das filhas da Bilinha né, mãe? De carne, de queijo e com pimenta, então… Que saudade!


Mãe, a senhora ia fazer tantos amigos por aqui. Se bem que, moderna e antenada como a senhora é, ia gostar mesmo é dos meus amigos. Fiz vários! A senhora precisa ver: tem uma chinesa que morou no brasil, em nova iorque, pelo mundo à fora. É sabida toda vida! Tem outra mãe, que mora no rio de janeiro e fala inglês fluentemente, morri de inveja dela. Os textos em inglês que eu tive que ler, ela sentou comigo e leu todos, na maior paciência. E uma outra, me deu mil dicas legais de lisboa, me levou em cada canto bacana, a senhora precisa ver. Tem ainda outra, também do rio de janeiro, linda de viver! Ah, e agora no finalzinho conheci uma professora da queza. Mãe, que mulher interessante! Foduça, sabe? Humana e sensível.Tem um filho, bonito! Ele chegou a dar um rolê de skate com o João. Quase morremos do coração com as manobras dos dois. Também ganhei uma irmã, mãe. Temos tantas afinidades! Sabe aquela cumplicidade que eu e a senhora temos? Aquelas coisas que só a senhora me entende? Com ela é assim, mãe. Juntas nos emocionamos, nos indignamos, nos embrabecemos. Já vi o olho dela se encher de água ao ouvir minhas histórias e o meu já encheu de água ao ouvir as dela. Ela tentou disfarçar, mas eu percebi. Eu falei da senhora pra ela. Ah, a senhora sabe que eu sempre falo da senhora pra todo mundo, fazer o quê, né? Ah, tem também um menino do espírito santo. Eu fiquei impressionada, como é possível caber tanta simpatia numa pessoa só? Ah, também conheci uma outra professora, bonita toda vida. Veio com a filha, quase da idade do João. A menina dela nos salvou em vários momentos tensos, sempre com uma boa ideia pra acalmar os ânimos. A senhora precisa ver que gracinha!

Mãe, a cidade é tão linda! Não teve um dia que não me encantei com o rio. Azul como o mar. Ele abraça a cidade, sabe? E os parques? A senhora ia adorar fazer piquenique, como a gente fazia no cerrado, lembra? Aqui, eles fazem muito. É o céu estar azul e o sol visível que vai todo mundo pra rua. Alguma s pessoas ficam até, de soutien. Assim,  de boa! A Senhora precisa ver, só não sei se ia gostar.

Mãe, se a senhora gostou do aquário do zoológico de BH, fico imaginando a senhora no oceanário. Tem de tudo, de peixinho pequetitinho, até tubarão. Uma coisa! A gente senta em frente e fica vendo eles passarem pra lá e pra cá e se esquece da vida.

Acho que a senhora também ia gostar de passear de barco, de andar de trem (aqui eles chamam de comboio), são super confortáveis, uma beleza! Não sei como pode uma cidade ter tanta opção de transporte: ônibus, trem, metrô. E tem ainda, o bonde, que é um charme, só! Mas não pode pegar quando se tem pressa não, mãe. Porque ele vai numa vagareza! Nessas horas a gente aproveita para ir apreciando a paisagem que é linda demais!


Deu tudo certo viu, mãe? O meu professor/orientador foi um amor e me recebeu super bem, uma gentileza, só! É sabido toda vida. A senhora precisa ver, ele escreve em inglês, francês, uma coisa! Uma sabidice que até irrita. Adorei trabalhar com ele. Parece que ele gostou de trabalhar comigo, também. Ele comentou com uma amiga que me contou, escondido. Bobagem, né? Elogio tem que ser público, a senhora não acha?

A minha senhoria (aqui, é assim que eles chamam o proprietário da casa que a gente aluga) também foi um amor. A senhora precisa ver. Um carinho comigo e com o João. Todo dia uma prenda, sempre passava pra saber se estava tudo bem.

Mãe, vou parando por aqui, porque senão não sobra nada para contar pessoalmente. Daqui a pouquinho tô chegando aí. Fica com deus, viu?

Bença.

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