terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Milton convida Criolo

 “Eu estava lá em Berlim, mas meu coração estava aqui. Eu senti saudades de casa. Eu pedi a Deus um sinal. Ele mandou você pra mim: Milton! Milton!”

Assim cantou o rapper nos convidando a juntos chamarmos o anfitrião. Quando Bituca entrou o teatro delirou. A maioria do público parecia estar ali por conta dele. Muitos ainda não conheciam Criolo (como pode?).

Os dois começaram o show cantando juntos “a terceira margem do rio”, canção de Milton e Caetano inspirada no conto de Guimarães Rosa. Aí, é sacanagem! Ver Criolo se rendendo a Minas, a Milton e a Guimarães Rosa é demais para meu coração, principalmente num momento de volta pra casa.

Criolo ficou o tempo todo na posição de convidado, reverenciando o ídolo e anfitrião. Milton por sua vez, rendido a genialidade do rapper. É visível que essa parceria faz bem a ambos. Em dueto vieram “linha de frente”, “mariô” e “bogotá”, de Criolo; e de Milton, “morro velho”, “travessia”, “cio da terra”. O Show  teve ainda o solo de  Milton em “ponta de areia”, acompanhado de sua sanfoninha, presente da mãe, ainda na infância. Criolo cantou sozinho em “freguês da meia noite” e "não existe amor em sp". Para arrematar a participação de Júlia Vargas e sua voz maravilhosa.

No finalzinho Criolo nos salvou chamando-nos para frente do palco e nos libertando das cadeiras do Palácio das Artes, que embora confortáveis, naquele momento, prendiam quem queria dançar. Teve bis e tris… E depois, fila para o camarim. Não sei quem estava mais emocionado, se eu ou o menino.

Quando Guimarães Rosa morreu, Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema onde diz que ficou sem saber se Guimarães Rosa era fábula ou se existiu de se pegar. Tão bom ver que nossos ídolos existem de se pegar. Milton saiu correndo, já passou dessa fase de receber fãs no camarim, já virou entidade. Criolo recebeu todos, sem pressa, posou para fotos, dividiu o lanche conosco. Confessei a ele que diante da indignação do menino, quando não tenho respostas para as suas perguntas, muitas vezes a gente senta juntos e escuta um rap. Ele então disse: “dá aqui um abraço”. Tirei uma foto dele com João. Na minha vez, um assessor disse, "deixa que eu tiro, assim vocês dois saem juntos na foto". Nossos braços de fãs enlaçaram as costas do ídolo. Ele nos puxou pra mais perto. Minha mão ficou sem lugar. A emoção era tanta, que meio encabulada, a pousei em seu peito.

Não, Criolo não é fábula, ele existe de se pegar!

(Baldim, junho de 2014)

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