Cerca de 60 e poucos dias e 2016 acaba. Ufa! Que ano! O ano que
finalizei e defendi a tese e isso não é pouca coisa não. Assim como olho
para o menino no alto dos seus 1,80m e não acredito que chegamos até
aqui, eu olho para o meu diploma de doutorado, meio incrédula, que
consegui escrever a tese. Daqui, da mesa da cozinha. A mesma mesa que
sentava com mamãe para o café e ouvia suas histórias. Muitas delas
repetidas várias vezes e que hoje, dá um arrependimento por não ter registrado.
Cozinha é lugar místico, lugar de alquimia. É aqui que mato a minha
fome, do corpo e da alma. Os livros e cadernos estão espalhados pelas
cadeiras, bancos e mesa. Dia desses, o moço do supermercado veio trazer a
compra e ficamos num impasse, sem lugar para colocar as compras: "aqui
tem gente que gosta de ler, hein?" Ele disse procurando um espaço entre
os livros para colocar os pacotes.
Há cerca de 2 anos e meio o
menino me pergunta, quase que diariamente:"depois daqui, a gente vai pra
onde, mãe?" E, parece que agora, finalmente, eu tenho uma resposta,
voltar para a metrópole. Há meses já ensaio essa volta. Dia desses,
voltando do Palácio das Artes fiquei pensando na diferença dos medos que
sinto em uma e outra cidade. Na capital tenho medo de assalto, de
assédio. Se bem que assédio tem em qualquer lugar. Aqui mesmo, tive que
mudar o trajeto da caminhada para não me aborrecer. Aqui, tenho medo de
aranha que sempre aparece quando cortamos a grama do quintal; tenho medo
de cobra quando embrenho no mato para tirar retrato; tenho medo das
vacas. Dia desses corri de uma que veio em minha direção, depois que
passei embaixo da cerca para fotografar o pôr do sol. Os medos são
diferentes, mas estão aí, com a gente.
"Você vai perder essas
singelezas quando mudar para a capital", uma amiga disse. Mas eu penso
que o mesmo sol que brilha aqui, brilha lá. A caminho da Faculdade de
Educação - FaE onde estou dando aulas, sempre me distraio com a beleza
do campus. Os ipês rosa, amarelo e branco, os passarinhos que são
muitos, as orquídeas do jardim da FaE e claro, os estudantes que para
minha alegria e orgulho estão ocupando tudo por lá.
Acompanhei a
angústia dessxs meninxs me chamando a atenção: "professora, não podemos
ficar aqui discutindo prática de ensino em Ciências Sociais, se nem
sabemos se amanhã estaremos em sala de aula".
Hoje é dia de
seguir para a capital. Amanhã estarei lá, na FaE, juntos com xs meninxs,
ocupando aquele espaço que é nosso, porque é público e resistindo à
essa PEC do fim do mundo.
"¡Que vivan los estudiantes,
jardín de las alegrías!
Son aves que no se asustan
de animal ni policía,
y no le asustan las balas
ni el ladrar de la jauría.
Caramba y zamba la cosa,
¡que viva la astronomía!
Me gustan los estudiantes
porque son la levadura
del pan que saldrá del horno
con toda su sabrosura,
para la boca del pobre
que come con amargura.
Caramba y zamba la cosa
¡viva la literatura!"
#NãoaPecdoFimdoMundo
#Ocupatudo
#OcupaFaE
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