"A beleza é tudo aquilo que você não dá conta de ver sozinho. Ela
pesa muito. Então você tem que passar pra alguém." (Bartolomeu Campos de
Queirós)
Foi assim na quarta feira, durante o Circuito das
Letras, evento da Secretaria Estadual de Cultura que está acontecendo em
BH. A conversa sobre a transversalidade da linguagem aconteceu entre o
músico Criolo e o poeta Ricardo Aleixo.
Dois da periferia. Este poderia ser o título da mesa que discutiu entre outras coisas, se o Cep faz diferença na composição da obra dos artistas.
Aleixo falou dos desafios em ganhar a vida com a palavra. Segundo ele, a
elite quer a palavra só para si, para inviabilizá-la como elemento de
transformação.
De novo, eu lembrei de Paulo Freire e do direito à
palavra. Segundo Freire, os dominados para dizerem a sua palavra têm
que lutar para tomá-la. Freire que se alfabetizou escrevendo com
gravetos no chão, embaixo das mangueiras de sua casa, no Recife. "O chão
foi meu quadro negro; gravetos o meu giz", ele diz.
Fico
pensando que foi isso que fez Carolina Maria de Jesus, que escrevia até
com carvão em sacola de papel, biografando-se, existenciando-se,
historicizando-se. Salve Carolina!
A escritora Conceição Evaristo
também revela que a origem da sua escrita passa por sua mãe, que embora
não alfabetizada, foi quem lhe forneceu o primeiro sinal gráfico,
acocorada na porta do barraco na favela onde moravam. O lápis era um
graveto e o papel era o chão lamacento, onde ela desenhava um sol cheio
de grandes pernas. Lavadeira profissional, a mãe precisa dele para secar
as roupas das patroas e garantir o sustento dos filhos. O desenho era a
sua evocação.
Direito à palavra... Dois da periferia. Muitos das periferias...
Depois de Aleixo, falou Criolo. Falou sobre como o seu Cep influencia a
sua escrita. Contou da embalagem de arroz, feito mochilinha para o
material escolar. Falou do brasão da escola desenhado pela mãe que não
tinha dinheiro para comprar o uniforme.
Sim, o Cep influencia a
escrita. Tudo isso está lá, nas letras de Criolo, nos poemas do Aleixo,
na escrita de Carolina e Conceição Evaristo.
A linguagem é também disputa.As palavras que Aleixo e Criolo jogaram no ar, voaram e ainda ressoam em mim até agora.
Gratidão por tanta beleza.
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