sábado, 6 de junho de 2015

Saber com sabor

eu não entendo de escrivaninha, já dizia minha amiga gabina sanavaga. é daqui, da mesa da cozinha, olhando para o morro que, por enquanto, tapa as minhas vistas para o que há do outro lado e me obriga a ficar presa às minhas memórias e aos meus dados de campo que vou juntando os ingredientes da minha escrita. é desse lugar que, devagarinho, as letras vão se formando sobre o teclado e vão marcando, pouco a pouco, as páginas em branco. lentamente os capítulos vão tomando forma. computador, livros e cadernos dividem o espaço com o pote de pimenta, a lata de pão, o vidro de azeite. é mexendo uma panela e outra, experimentando uma receita e outra, parando um instantinho para testar um novo suco com as frutas do quintal, que vou dando sentido ao vivido e experimentado com os sujeitos da minha pesquisa. as anotações de campo estão todas marcadas: uma gota de gordura que caiu do prato, a marca da pata do cachorro, que de tanto esperar, já ficou entendiado, pingos do café entornado que apagou o escrito e da sopa que coloriu de urucum, justamente a passagem onde escrevi sobre o caboclo. é daqui, do espaço da cozinha, que vou colocando os temperos e arrumando lentamente as ideias na cabeça, na expectativa que o resultado dessa escrita fique gostoso. afinal, saber tem que ter sabor.

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