Baldim, 20 de abril de 2015.
Glória querida,
Hoje, repito um gesto realizado ainda na infância, escrever uma carta para você. A primeira carta que escrevi na vida foi para você. Eu começava a ser alfabetizada, queria grafar seu nome como lhe chamava, alguém me soletrou as letras, acho que foi a Luia. Durante muitos anos as quatro letras, escritas a caneta, em letra de forma, ficaram marcada na parede da sala: GÓIA.
Hoje, escrevo para lhe dizer da alegria que tem sido conviver esses dias com sua filha Sara e com seus netos, Lucas e Mirian. Sara foi das sobrinhas que menos convivi. Quando ela nasceu a minha vida e a sua já tinham tomado rumos diferentes e convivíamos muito pouco.
Foi com uma alegria imensa que fiquei de longe, observando Sara e João trocarem confidências sobre música. Tão lindo verem esses primos convivendo. João ficou muito impressionado com a prima que, embora mais velha que ele, divide o mesmo gosto musical pelas bandas de rock. O assombro foi tanto que ele me confessou: "nossa mãe, ela só tem 30 anos e já é mãe de família". E eu completei: "e ainda estuda e trabalha fora."
Entre um cuidado e outro com as crianças (que mãe paciente e amorosa ela se tornou), Sara nos ajudou nas tarefas e ainda fez um trabalho da faculdade. Chamei a atenção do João para o fato de não competirmos em pé de igualdade. Como uma mãe de dois filhos pequenos, que ainda demandam tanto cuidado, trabalha fora e ainda estuda pode competir com os colegas de sala? Ah, a falácia da meritocracia... Ainda bem que, recentemente, ela conseguiu o Fies. Não pagar as mensalidades faz uma diferença enorme no orçamento familiar.
Glória, consigo perceber na Sara a mesma indignação diante das injustiças sociais que via em você. Ela quer se formar em direito, não para ganhar muito dinheiro e ficar rica, mas para ajudar aqueles que não têm como pagar um bom advogado. Oxalá, ela se torne uma excelente defensora pública. Em uma das que fiz à sua casa, lembro dela pequenininha, chegando com a Débora (acho) da locadora com vários vídeos e lhe entregando um em especial, cujo título era "Justiça" e lhe dizendo, "Mãe, esse a gente pegou especialmente pra você!"
Nesses dias que ela esteve aqui, fomos intercalando "horinhas de descuido" com momentos de tensão. João e Léo brigaram algumas vezes e quando a gente pensava que nunca mais eles se falariam, lá estavam eles já pensando em uma nova brincadeira. Precisamos mesmo aprender a arte da convivência com as crianças.
No primeiro dia, a programação das crianças e do adolescente (João não aceita mais ser chamado de criança) incluía dormir na barraca, armada no quintal. O Léo, segundo os meninos, arregou e sobrou para o João e o Lucas a aventura.
Ontem, teve piscina, caminhada pelo cerrado e futebol à noite. Na caminhada, o Léo, se sentindo o próprio guia turístico, ia à frente conduzindo a Ana Clara (da Vivi) e o Lucas e explicando tudo. Só pararam e voltaram correndo quando encontraram um monte de bois e vacas pelo caminho.
Na volta teve mais um tibum na piscina, mas desta vez não dormiram na barraca, que sobrou para o Scooby, que confortavelmente, teve um colchão enorme só para ele. Estamos pensando em não devolver a barraca e transformá-la na casa definitiva do Scooby, mas está difícil convencer o Léo.
No apagar das luzes, fui dormir com o coração aquecido, depois de saber que a pequena Mirian confessou à mãe: "eu gosto da tia Dalva."
Parabéns pela família, Glória!
Abração,
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