quinta-feira, 19 de março de 2015

Rua do Campo



Antigamente, antes da rua ter nome oficial, chamava-se "rua do campo". O campo de futebol, fica bem no fundo da sua casa e naquela época, quando haviam poucas cercas e poucos muros, o quintal era usado como atalho para quem ia assistir os jogos.






Nos domingos de jogos, a alegria de sua mãe contrastava com a sua tristeza. Nesses dias, ela e a irmã vendiam "K-Suco" gelado na porta do vestiário. Detalhe: não tinham geladeira. Os vizinhos eram quem forneciam o gelo. Tinha mais essa, sair pedindo gelo de casa em casa. Ela odiava, morria de vergonha, detestava ficar ali, na porta do vestiário ouvindo os jogadores falando palavrões, um ambiente onde só tinham homens. Quantos anos tinha? sete, talvez oito, nem se lembra mais... Mas a mãe, empreendedora como era, sabia das coisas. Quem, senão ela, teria a ideia de vender refresco gelado na porta de um vestiário em dia de jogo? É óbvio que vendia, e muito! 



 Era tradição entre os irmãos, os mais velhos levarem o dinheiro para a mãe. Só os mais velhos poderiam desempenhar tarefa de tamanha responsabilidade: carregar duas ou três notas no bolso, morrendo de medo de perdê-las.  Na medida em que iam crescendo se recusavam a fazer determinadas tarefas e sempre sobrava para os menores. Depois ela descontaria na irmã mais nova o que a irmã mais velha fazia com ela: ir, sem pressa nenhuma, levar o dinheiro para a mãe. A alegria da mãe quando as filhas chegavam com o dinheiro, compensava toda a vergonha que sentiam. Nesses dias dava até para comprar carne!

Fazer o quê? Foi assim, com esses pequenos empreendimentos que a mãe ajudou o pai a pagar a casa onde moravam. Às vezes, com o dinheiro do K-suco dava até para rolar uma roupa nova para a "Festa de Agosto".

Hoje, a rua mudou de nome. O campo está gramado, murado, tem até arquibancada. Mas, o vestiário está lá, do mesmo jeitinho que sempre foi. E a cada caminhada não tem como não reviver essas lembranças...




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