quinta-feira, 7 de maio de 2015

Convivência

Quando nos mudamos para Florianópolis, em 2011, o menino tinha 8 anos. Lá, quando não dava para me acompanhar nas aulas, ele ficava sozinho em casa. Aprendeu a se virar, a fazer pipoca, miojo, de fome não morria. Em 2013, já em Lisboa, foi um salto de autonomia. Ia sozinho pra escola atravessando a cidade no "electrico 28". Na Praça da Figueira conheceu os "trutas" do skate, galera solidária, que dividiu com ele shapes, trucks e rodas.

Há quase um ano estamos no interior de Minas. Agora, o melhor amigo é um adolescente que quando não tem aulas, ajuda o pai na roça e já consegue comprar suas coisas com o próprio dinheiro.  O menino vendo o exemplo, já sonha com um trabalho, esperando ansioso completar 14 anos para entrar em algum programa de "jovem aprendiz" e ganhar a própria grana. Afinal, desde que se entende por gente, a mãe vive de bolsa, o dinheiro sempre contadinho, sem poder fazer "gracinhas".

Hoje, os dois chegaram juntos da escola e foram para o computador pesquisar preços de skate. O amigo, que há pouco tempo ganhou um cavalo de presente, agora quer ser skatista. O menino, mais "experiente", deu uma "consultoria" explicando sobre peças, marcas e sites. Enquanto explicava as vantagens e desvantagens de cada equipamento, o colega ia fazendo as contas de quantos dias de trabalho seriam necessários para adquirir o mais novo objeto de desejo. Navega daqui, navega dali, se depararam com os preços de tênis. 1200 reais em um par. O amigo olha para o tênis no pé, custou 120, cinco dias de trabalho.
- Nó vei, 1200 dava para comprar 10 desse daqui. Mais mil conto e dava até pra comprar uma moto velha pra ir pra roça trabalhar.

Ficaram ali um tempão fazendo contas. Essa convivência tem feito um bem danado ao menino. Acredito que ao amigo dele também.

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