segunda-feira, 11 de maio de 2015

Carta da mãe


Belo Horizonte, 15 de janeiro de 1979.

Oi filha,
Ponho-lhe a bênção.
Como estão as coisas por aí? E Sô Zé Dias, melhorou?
Aqui, as coisas vão se ajeitando. Os meninos pequenos já estão matriculados na escola e os maiores estão todos trabalhando. Ainda não posso ir lhe visitar porque o dinheiro está curto, a maldita inflação come quase tudo. Mal sobra pra comprar um torresmo de vez em quando. Ainda bem que, diariamente, o dono da padaria fornece dez pãezinhos para a sua irmã. Isso ajuda um bocado nas despesas.
Sinto falta do quintal e da horta. Aqui, praticamente não tem espaço, mas mesmo assim, eu consegui plantar uns pés de couve, cebolinha e umas plantinhas no barranco. É pra ver se dá um pouco de vida pra casa nova. A D. Olívia é um amor de pessoa e tem nos ajudado bastante. A Maria, minha vizinha, também tem me socorrido nas horas de aflição. É com ela que eu saio para procurar ofertas nos supermercados. Você sabe, né? Eu fico muito insegura em andar nessa cidade, desse tamanho, sem saber ler. Que falta que os estudos fazem, viu? Ainda bem que com vocês será diferente.
Filha, não se preocupe com o rádio de pilha. Pode ficar com ele o tempo que quiser. Eu sei o quanto que você gosta de ouvir música e que carrega ele para todo canto, quando vai arrumar a casa, ou varrer o quintal. Faça bom proveito que ficarei feliz. Quando der, você vem nos visitar. Fique bem.
Dê lembranças ao seu avô.
Sua mãe,

Maria Dulce

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