domingo, 14 de junho de 2009

"Eu não tô entendendo nada!"

Já perdi a conta de quantas vezes assisti ao filme Amélia de Ana Carolina. Sempre encontro um pretexto para passar para @s alun@s: discutir capital cultural do Bourdieu, discutir etnocentrismo na Antropologia e por aí afora. Esse final de semana, assistindo aos extras e ouvindo a Ana Carolina dei mais uma de minhas "piradas".

A diretora comenta da incomunicabilidade humana. A cena em que as irmãs chegam ao hotel e encontram com a criada de Sara, Vicentine, é um bom exemplo disso. Ana Carolina, deixa a cena sem legenda, enquanto Vicentine fala em francês levando o espectador a compartilhar da angústia das irmãs.

Mas a orientação de Amélia era: "finjam que conhecem tudo muito bem, não é difícil, é só ficarem caladas". E, segundo Ana Carolina, quando não entendemos, começamos a adivinhar. É o que as irmãs tentam fazer, adivinhar o que aquela mulher está querendo dizer naquela língua estranha. E quantas e quantas vezes não entendemos nada, mas fingimos que conhecemos tudo muito bem? Por isso a interlocução é tão difícil.

Estava tudo muito seguro, previsível até o encontro das irmãs com a francesa. Mas estar de frente com a alteridade desestrutura tudo. O "outro", o diferente tem o poder de desencadear isso em nós. Segundo Ana Carolina, na maioria das vezes não entendemos ou entendemos muito mal o "outro", pois para entendê-lo é preciso conhecê-lo. Essa lição a antropologia já nos ensinou, mas o conhecimento da diferença exige acolhimento e generosidade.


Quando a alteridade se coloca, tudo que estava seguro entre aquelas mulheres se abala. A crise de Sara é a crise de todos nós, diz Ana Carolina, por isso "bem aventurados aqueles que conseguem, debaixo de grande tortura, achar um jeito de fazer o seu dialeto próprio". Às vezes demoramos uma vida inteira pra aprender a falar a nosso própria língua, nos fazer entender, conseguirmos nos expressar. A não expressão é o hospício, diz Ana Carolina. Mas construir seu próprio dialeto não é tarefa fácil. A cineasta usa a metáfora de uma caixa de concreto onde se está preso. A ruptura dessa caixa é resultado de trabalho árduo, que às vezes pode levar anos, é "estiva" como ela mesma diz e não tem nada de glamour. Mas não há outra saída: ou conseguimos nos expressar ou é a loucura!

Felizes aqueles que conseguem construir seu próprio dialeto, felizes aqueles que rompem a caixa, felizes os que conseguem se fazer entender!!!

Salve, salve, Ana Carolina!!!

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